O poder do acolhimento de Chieko Aoki
A empresária fundou a rede de hotéis Blue Tree, a quarta maior do brasil, administra 24 empreendimentos em 20 cidades do país e tem planos ambiciosos para os próximos anos. Carinhosamente chamada de senhora Aoki, a japonesa naturalizada brasileira demonstra disciplina, respeito e seriedade em tudo o que faz, sempre focada em aprimorar a hotelaria. Todos os dias, ela se lembra da frase que a inspirou a criar sua empresa: “Não deixe jamais que alguém que achegou-se de ti vá embora sem sentir-se melhor ou mais feliz”. O mantra de Madre Teresa de Calcutá guia os passos certeiros e serenos da executiva que já foi considerada a segunda mulher de negócios mais poderosa do Brasil, segundo a revista Forbes.
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Chieko Aoki transmite seus valores de disciplina e seriedade com sua voz calma e tranquila. Após chegar pontualmente para a entrevista marcada no hotel Blue Tree Premium da Avenida Faria Lima, em São Paulo, a presidente e fundadora da rede hoteleira lembra da infância em Fukuoka, no Japão, do bonde que a levava para a escola de canto, do concurso de pintura, das aulas de ballet e dos primeiros traços da escrita nipônica. “A criança se esquece do cotidiano, por isso é importante criar momentos marcantes. Parar a rotina e celebrar os fatos”, comenta a Sra. Aoki, enquanto revive a época em que seus pais emigraram para o Brasil.
A motivação para a mudança veio após seus pais receberem a notícia de uma tia latifundiária que acumulava cada vez mais dinheiro em São Paulo. A perspectiva de sucesso parece ter sido o empurrãozinho que a família precisava para deixar o Japão. “Nunca perguntei ao meu pai, mas imagino que ele tenha pensado o seguinte: ‘puxa, se uma mulher viúva, criando os filhos sozinha, ficou rica, imagine eu’”, supõe Chieko. Para ela, a vinda para um novo país, quando tinha seis anos de idade, fluiu bem. “Não senti dificuldade. Talvez seja a forma de educar dos meus pais. Se os pais são felizes, as crianças são felizes. Se as crianças são felizes, os pais são felizes”, afirma.
Seu semblante é sereno. A empresária vê a dualidade de sentimentos manifestada pelas pessoas com certa estranheza, preferindo fugir da roda gigante de emoções. “Nem as tristezas, nem as grandes emoções me abalam. Não me emociono. Claro que gosto de ser feliz. Todo mundo gosta das coisas boas. Mas você não vive feliz todos os dias. Aceito essa outra parte da vida sem desespero. Sentimentos fazem parte da vida e de nós. Aprenda a conviver com eles”, aconselha.
Esse equilíbrio a acompanha de longa data e pode ser conferido nas decisões tomadas durante sua vida. Lá atrás, há mais de 40 anos, Chieko pensava em ser professora de filosofia, mas acabou se matriculando no curso de direito da Universidade de São Paulo (USP). Seus dois irmãos seguiram outros caminhos: engenharia e medicina, enquanto Chieko frequentou as aulas no famoso Largo São Francisco por uma questão de praticidade e localização geográfica. “Todos os cursos da USP foram para a Cidade Universitária, que era no meio do nada naquela época. Eu morava em São Caetano, muito longe. A única opção de faculdade que tinha sobrado era direito”, conta.
Assim como grande parte de sua geração, Chieko já trabalhava antes de começar a graduação. Fluente em português, inglês e japonês, a adolescente trabalhou como secretária executiva na Ford por cerca de quatro anos. Depois veio a formatura, a conquista da carteira da OAB, alguns estágios e a decisão de se especializar no Japão. “Casei e acabei me distanciando do direito, mas o curso me deu muita capacidade de análise”, observa a empresária, que sempre se dividiu entre o Brasil e sua terra natal.
A estreia na hotelaria foi em um dos empreendimentos do marido, John Aoki, o Caesar Park Hotels & Resorts, como diretora de Marketing e Vendas, em 1982. Foram anos viajando pelo mundo em uma época sem internet, na qual todos os contatos eram feitos pessoalmente. “Era outra realidade. A hotelaria exigia muita viagem porque você busca o hóspede fora da sua cidade. Era uma dinâmica mais humanizada”, expõe a Sra. Aoki, sempre recomendando que as pessoas viajem mais. “Quanto mais cultura você tem, mais abre seu campo de oportunidade e atenção. Tenha o máximo de experiência. Não se limite. Vá fazer grandes descobertas”, recomenda.
Como ela mesma diz, foram anos correndo pra lá e pra cá, até chegar à presidência do Caesar Park e da mais antiga e tradicional companhia hoteleira dos Estados Unidos, a Westin Hotels & Resorts. Até hoje, a cada dificuldade ou problema, a executiva para e analisa, olhando principalmente para dentro de si mesma. “O começo de tudo é entender onde você errou. O problema não aparece de repente. Em algum momento você motivou, sendo responsável de alguma forma. Se você causou o problema, resolva”, orienta a Sra. Aoki, acrescentando que não se sente vítima da situação. “Todo mundo tem momentos frustrantes. Até mesmo os santos devem ter preocupações!”, brinca, mantendo a mesma calma no tom de voz.
Em 1996, um problema maior ocupou sua vida. O marido teve um acidente vascular cerebral, vindo a falecer em 2012. O ocorrido acarretou na venda do Caesar Park para o grupo mexicano Posadas, em 1997. “Decidi montar uma estrutura para começar uma nova empresa. As coisas nunca são orgânicas. Em vez de ficar esperando, você tem que movimentar e ir atrás. Foi uma época que exigiu muita dedicação”, explica a empresária, que fundou a Blue Tree no mesmo ano. A escolha do nome da marca vem do seu próprio sobrenome traduzido para o inglês: Aoki significa “árvore azul”. Na mesma época, Chieko fundou o Noah Gastronomia, composto por seis restaurantes e espaços para eventos em São Paulo.
A rotina da nipo-brasileira é intensa. Uma de suas preocupações diárias é ter a consciência de estar ou não tomando a decisão certa. “Faço o meu melhor para acertar, mas erro muitas vezes e o mais importante é ter a coragem de saber consertar. É importante enxergar o equívoco e tomar o rumo certo. Não tenho dificuldade de admitir quando estou errada”, assegura a empresária, conhecida no setor da hotelaria por ter criado alguns hábitos difundidos pelo mundo inteiro. O xale no pé da cama, que substitui a colcha, o cafezinho no lobby e a figura da guest relations são algumas invenções certeiras da Sra. Aoki.
Em tudo o que faz, Chieko aposta na incansável busca de contribuir para um mundo melhor. “Acordo motivada, pensando no que posso fazer para melhorar. A hotelaria ainda tem muito a crescer. Antigamente, a hospedaria era um lugar que recebia pessoas cansadas para descansar. Não podemos nos esquecer desse princípio. Precisamos fazer com que as pessoas sigam seu caminho melhores no dia seguinte”, aponta a presidente, destacando que ainda há muito espaço para crescer no Brasil, inclusive nos serviços para a terceira idade.
Desde dezembro de 2014, a rede tem trabalhado o conceito de franquia de hotéis, somando forças à prospecção de novos empreendimentos. A ideia é que hotéis independentes utilizem a bandeira da marca e recebam o programa de gestão da Blue Tree. “Crescemos muito mais quando juntamos forças e formamos uma rede de trocas e aprendizados. Um hotel sozinho tem mais dificuldades – a não ser que esteja na melhor localização e tenha vantagens competitivas”, explica Chieko.
A empresa também firmou uma parceria com a Best Western Hotels & Resorts, recebendo a administração de 15 hotéis até 2020. Ao citar todos os planos que ainda vêm pela frente, a Sra. Aoki começa a dar sinais de que a conversa está chegando ao fim. “Agora tem que correr e trabalhar. Estamos com muitas novidades. Tomara que dê certo. Abrimos o Blue Tree Premium Design Rio de Janeiro em março e precisamos encher de hóspedes. Inauguramos no Guarujá e estamos abrindo em Valinhos. Só de falar vejo o tanto de coisa que tem para fazer. É muita responsabilidade”, ressalta a empresária. Antes de sair, ela ainda aproveita para dar um último conselho: “busquem o caminho mais difícil, que nos faz aprender mais. Acho até que deveríamos pagar para ter dificuldade na vida”.
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Fotografia Divulgação
Julho de 2016, Avianca em Revista
Fotógrafo Flavio Terra